quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Histórias filiais

É quarta-feira, são dez da noite. Já é hora de Thiago dormir, pois ele tem nove anos e acorda cedo para ir ao colégio. A mãe, Suzana, acompanha-o até o quarto, entretida com as ilustrações do livro que tem nas mãos.
Mal começa a leitura e o filho já vai sentindo as pálpebras pesando... Ela nem termina de ler o primeiro capítulo e o garoto já tem os olhos se fechando. Enérgica, ela chacoalha-o pelo braço; ele resmunga, entreabrindo os olhos, já sem muita noção do que se passa em volta. Ela insiste na leitura, um olho no livro e o outro no filho, vendo se controla para que ele resista ao sono. É tudo em vão: em poucos minutos o menino dorme pesadamente. Mas Suzana torna a acordá-lo, e quando num susto o guri abre os olhos ela o xinga: “Que sem graça, isso! Desse jeito eu nem me animo mais pra te ler nenhuma história... Eu te compro um livro novo, uma história tão bonita, e dormes antes do segundo capítulo?! Desse jeito me dá vontade é de te trocar pelo filho da Lúcia, pelo menos nessa hora!”. E vai dormir francamente desapontada, como se aquela cena não fosse a mesma de quase todas as noites.

É quase meia-noite na casa da amiga Lúcia, advogada dedicada e talentosa. Apesar do adiantado da hora e de seu filho Vitório ter apenas seis anos, ele ainda está acordado. Os dois estão deitados na cama dele. Os olhos de Lúcia, cheios de olheiras, já vão cerrando, mas ela desperta quando o menino lhe grita: “Mãe, vai mais um?”. Ela esbraveja: “Não é possível... Isso é muita falta de consideração! Eu te leio sete livros seguidos, s-e-t-e!, e nem assim tu dormes, meu filho?! Inda tenho que acabar duas petições antes de ir dormir... Toda noite é isso... Deus que me perdoe, viu?, mas dá vontade de te trocar pelo filho da Suzana na hora de te fazer dormir... Francamente!”.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Agonia da Criação

Derramadas (parece que) doidivanas
As palavras na tela, no papel, surgem
Ásperas, irônicas, delirantes
Aparentando precisão de bisturi
E quase nunca tão exatas
Quanto latejantes n’aflita mente
Do bem-(des)aventurado poeta
Os sentimentos sem nome.

Mas há tanta ingenuidade no mundo...

O leitor ingênuo supõe-se condoído
Por mera empatia à Agonia Criadora
Mas jamais saberá precisamente
Quanto Ela dói a mais na fonte
Quanto a Poesia arde em excesso
Antes mesmo de ter um corpo
Enquanto é só aparição, impertinência
Demônio com urgência de nascimento
Tormento inadiável do poeta alumbrado.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Giratório




ao pé dessa montanha

que tem quase a altura do mundo

espreitando o renovar-se

que há na claridade da manhã

com suas particularidades de sábia

nem me custa compreender

que enquanto a saudade

o amor

e as sentimentalidades todas

acontecem e desacontecem

o ipê secular aqui ao lado

não se farta de florir

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Trilha do Rio do Boi

Esse foi o programa-aventura de que participei ontem, no circuito de canyons do Parque Nacional dos Aparados da Serra. E poderia ilustrar a postagem com imagens pitorescas, de paredões de setecentos metros formados pelo canyon Itaimbezinho, fendas gigantes cravadas na terra e nós lá embaixo, quatorze pessoas fugindo da rotina [...] com direito a banhos de cachoeira, piqueniques e banhos de sol pelo caminho. Mas antes de registros mais óbvios, prefiro trazer à luz do meu blog iniciante uma imagem que me chamou mais atenção que quase tudo: a vegetação, na trilha do Rio do Boi, firma-se basicamente em pedras, que é basicamente o que há por lá, milhões de bilhões de trilhões de pedras e mais pedras. Aquelas árvores enormes enraizadas em pedras me deram a noção exata da força do impulso da vida, agarrando-se ao que for possível para sobreviver e ser o melhor que puder. E que bom esse instinto, nas plantas e em nós, onde quer que haja VIDA. Carpe diem!

sábado, 1 de dezembro de 2007

Efetivamente...

Eis a primeira postagem que eu mesma redijo para este blog, o da guria que diz carpe diem. Um blog que surgiu num espírito de desafio por parte do meu amigo Sérgio, querendo me estimular para o aproveitamento do tempo. O tempo, essa moeda rara. Adoro bons desafios, e este [blog] que veio a título de cyber presente de aniversário merece que os meus dias valham/tenham tempo suficiente pra que ele valha a pena, assim como me parece que os dias, as noites, a vida, cada coisa deva valer a pena. Carpe diem!

Em tempo: Sir Grigoletto me inteirou a respeito de Amigos da Blogosfera. Interessa-me participar de futuras convocações.