quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Triunfal

Cheguei em Laguna, minha nova cidade, assim: desembarquei na rodoviária às 4 da matina e fui de táxi até o hotel de libaneses onde tinha feito reserva para 17 dias. Havia ligado no dia anterior para avisar o horário em que chegaria, e me informaram que não havia problemas em chegar de madrugada. No entanto, às 4 lá estava eu diante do hotel fechado e escuro. Não atenderam a campainha. Liguei e, finalmente, uma alma veio me atender. Era um dos donos, e disse que o hotel estava lotado. Eu, a mais ingênua das lagunenses adotivas, lembrei-lhe que havia feito reserva, e pago adiantado. Mas ele, constrangido, rindo sem jeito, disse-me no seu português sofrível que ‘não, lotou mesmo... a senhora aguarda aqui na recepção, que às 6 o meu pessoal vai embora e sobra quarto’. Não compreendi quem era o ‘seu pessoal’, mas, sem muita opção, tentei esticar-me num sofá e esperar que chegasse logo a luz do dia. Não foi fácil, porque vira-e-mexe chegava alguém, ligavam para o padeiro, o leiteiro, o cozinheiro, falavam de reservas e blablablás inerentes a hotéis. E eis que chega o horário que eu esperava, e desce um povo sem fim falando libanês, chorando, bradando e se despedindo (imagino). Eram abraços maternais desconsolados, pois uns ficavam e outros partiam... Parecia mais uma despedida italiana, com todas as gesticulações de direito. E eu, que só queria dormir numa cama decente, fiquei ali tentando fingir naturalidade em meio a um povo desconhecido, testemunhando constrangida aquela cena cheia de sentimentalismo libanês (universal?!). Não bastasse, num repente eu me viro para conferir a minha bagagem, uma única mala, mas que pesa uns duzentos quilos. Não estava onde eu a havia deixado, logo ali ao lado do sofá. Perguntei se a haviam guardado, e descobri que não, que o libanês que me atendera estava levando-a para o carro, confundida com as bagagens dos seus familiares. Por questão de minutos, agora a minha mala estaria no Líbano. Isso se tivessem pago a taxa de excesso de peso no embarque, afinal duzentos quilos são duzentos quilos. O meu único ponto positivo nesse episódio do sofazão é que o libanês resolveu me compensar com uma diária a mais. Se não deu pra perceber, digo com todas as letras que estou num hotel que parece aqueles de filmes de sessão da tarde, ‘onde tudo pode acontecer’. Mas não precisam ter pena de mim: 17 dias passam voando, e, além do mais, na verdade eu até me divirto com certos incidentes supostamente odiáveis. Não é porque toda a minha bagagem quase foi parar no Líbano que eu vou deixar de encerrar essa postagem com o desejo sincero de sempre: Carpe diem.