sábado, 14 de outubro de 2017

Grandes encontros

É dia 14 de outubro, e, como meus planos lunáticos estão dando certo, estamos em Teresina, num calor de fazer sulista infartar só de olhar pra fora do hotel. Minha armadilha já lançada pra que meu amigo Leandro seja pego de surpresa em sua casa, nesse dia que é o do seu aniversário, no bairro Vermelha Sul.
V i n t e a n o s e s e i s m e s e s. É o tempo que passou desde o início da nossa amizade postal, em abril de 1996. Quando a expressão “amizade virtual” começou a se concretizar entre as pessoas do meu dia a dia, eu já era PhD em amizades à distância, mas pelo correio convencional. Leo é o último dos meus grandes “amigos de carta” que me falta conhecer pessoalmente, pelo menos dentre os mais chegados. Ele não faz ideia que planejei esses meus trinta dias de férias em torno do compromisso número um que é aparecer de surpresa na sua porta, cantando parabéns com um bolo na mão, no dia do seu aniversário.
Quando, meses antes, contei empolgadíssima a ideia pro querido & parceiro de viagens, ele fez uma cara de desgosto e se limitou a dizer: “tu sabe que esse tipo de mico nunca dá certo, né?”, e eu respondi que “eu sei, mas deixa eu fazer uma dessas uma vez na vida!”
Aproveitando ter registrado no facebook a passagem relâmpago, um dia antes, pelo Museu do Amanhã, com a amiga Marcinha (“a menor gigante que conheço”), ligo pro Leo, já no hotel em Teresina, pra despistar, lhe dando os parabéns de sempre, e digo que estamos no Rio, viu a foto? Tá um calor aqui no Rio, sabe, e ele me conta que "lá" também, e que na manhã seguinte, sábado, vai ter a festa dele na casa da irmã e coisa e tal, com piscina e tudo. Ebaaaaa!, se alegra em segredo a parte do meu cérebro que ainda não derreteu.
Eu vigiando seus passos pelo zap, lá vamos nós atrás dum bolo de aniversário. Encontramos um supermercado, tem um bolo lindo, mas primeiro, pelamoooooordedeus, um tubo grande de protetor solar fator mil, porque o fator trinta que trouxe do sul não dá nem pro cheiro. Isso porque em Teresina não arriscamos uma quadra sem táxi. O que em qualquer outro lugar sempre nos parece frescura, aqui é sobrevivência pura.
Vinte anos e seis meses. Um amigo que só conheço por cartas. E telefone, e-mail, fotos, presentes, etc. O Leo é a pessoa que mais me serve de exemplo quando lembro que quem quer estar na vida de alguém, mesmo longe, consegue. Ele participa ativamente da minha, há mais de vinte anos. Até doce de caju feito pela dona Raimunda, sua mãe, ele faz chegar em mim, em nós, em Laguna, no sul brasileiro que ele ainda não conhece, ou melhor, só por carta. Por enquanto.
Mas voltando a Teresina antes que o sol de trocentos graus derreta o bolo. 



Instruções ao querido pra registrar o encontro. O taxista procura a casa, sei as coordenadas de cabeça, vinte anos e seis meses endereçando os envelopes pro mesmo lugar.
Mando um zap jogando um verde, ele diz que tá em casa, jogando game com seu sobrinho. Peço que não saia porque lhe mandarei uma surpresinha por um motoboy. Já na chegada o flagramos tentando pegar um melhor sinal de internet em frente a sua casa. A sobrinha Isabela está em redor, sempre.
FELIZ ANIVERSÁRIO!, desejamos do jeito mais realizável que conseguimos. Hoje, os 3.425 quilômetros que separam nossas casas são apenas números: nada atrapalham nesse abraço improvável mas muito verdadeiro. Na hora tenho vontade de mandar pro face nosso grande troféu, o souvenir máximo desse encontro: o vídeo de 33 segundos que registra nossa chegada na escaldante Rua Valdivino Tito. Mas os amigos nem acreditariam me vendo postar algo em tempo real, capaz de pensarem que é vírus. Depois de duas décadas salivando, o bolo é acompanhado com cajuína bem gelada, sim, senhor :D



A noite ainda nos presenteia com um outro grande encontro: o n. 4 de Elba + Alceu + Geraldo, no Teresina Hall. Leo não pode ir conosco, pois vai trabalhar nessa noite. Mas ele, Isabela e tia Raimunda vão conosco ao shopping comprar os ingressos. 





E amanhã tamos lá na festa na casa da irmã, pensa que eu esqueci, é, seu Leo?  
(À noite desse dia transbordante, o show começa com uma vida de atraso. Guardo até quase no fim um fiozinho de bateria da câmera, confiando no repertório, digo, esperando pela morena tropicana que há de vir, ai, ai, oi, oi, eu mega piegas entregue à felicidade de um dia realizado, e ela vem e arrasa, digo, o Alceu nunca me decepciona).
Dia 14 de outubro de 2016. Um dia que pra mim não é uma data apenas: é uma celebração sem prazo de validade. De grandes encontros que minha memória de elefante nunca há de me deixar esquecer.
Tá fazendo um ano. Na época, no ato, vou contando a trama no varejo, aos amigos do itinerário. Mas a distância é grande: pra pegar carona e registrar no atacado, é agora ou nunca mais.


4 comentários:

Renata disse...

Qualquer hora vão fazer um globo repórter sobre a espécie Suyan muito natural que diz "carpe diem". Onde vive? Do que se alimenta? Como se reproduz? Tu és exclusiva Su ... A história é inspiradora, guardei essa parte: "O Leo é a pessoa que mais me serve de exemplo quando lembro que quem quer estar na vida de alguém, mesmo longe, consegue". ❤️

Suyan de Melo disse...

Obrigada, Re, pelo carinho e pela leitura!
Ei, e não é verdade? Às vezes uma pessoa está longe estando tão perto, e outras, está perto mesmo do outro lado do mundo, ou, nesse caso, do Brasil. Beijos!

Anônimo disse...

Vc é o máximo! Estou com um "cisco" nos olhos após ler suas peripécias.💚🌼

Anônimo disse...

Suyan, que lindo!
Engraçado que li o texto lembrando justamente de você, em Paraty, me falando sobre as pessoas que você conheceu por meio de cartas e que mantém contato até hoje :) Beijo grande!

Luísa