domingo, 12 de agosto de 2018

MEMBROS DO INSTITUTO CULTURAL CHACHÁ: SÉRIE ENTREVISTA


(publicada inicialmente em https://issuu.com/ocorreio/docs/ed_1443)

CRISIANE NUNES BEZ BATTI




Natural de Vacaria/RS, Crisiane escolheu, com o esposo, a cidade de Laguna para morar, há quinze anos. Surda desde os dois anos, é formada em pedagogia e pós-graduada em educação especial e Libras. É a primeira/atual presidente da Associação Lagunense de Pais, Amigos e Surdos (ALPAS). 

Que reflexão ou observação pessoal gostaria de compartilhar sobre a Laguna de hoje? Sua resposta está no contexto de uma vitória recente, que, com o apoio de algumas outras pessoas e entidades, protagoniza: “Laguna ultimamente vem sendo pioneira na educação voltada para surdos, como no caso da sala bilíngue, única em todo o estado catarinense”. 

Além de ingressares no Instituto Chachá em 2017, e lá dares suporte para que nossas atividades sejam bilíngues (português + libras), participas de mais algum grupo ou coletividade cultural? Gostarias de destacar alguma experiência? “Sim. Dentre as várias atividades que a ALPAS já proporcionou à comunidade surda (tão carente em suas peculiaridades, não só na cidade mas de forma geral), estão três grandes encontros, no Cine Teatro Mussi, que proporcionaram o acesso do público, principalmente vindo da comunidade surda de Laguna e cidades vizinhas, a conteúdo de alta qualidade, pensado com muito carinho e cuidado, com palestrantes de alto nível de capacitação em diversas áreas (jurídica, pedagógica, acadêmica, social, médica, familiar, etc). 

Conheceste pessoalmente Richard Calil Bulos, o Chachá? Se sim, que lembrança tem dele? Se não, que ideia faz? “Não tive a oportunidade de o conhecer. Mas agora, pela obra que nos deixou, não tem como não me encantar com suas cores e figuras tão singulares, com os traços e nuances de cada uma de suas telas, tão cheias de vida. 

Considerando a Laguna atual, e estares integrando o Instituto, preocupado com a memória e o compartilhamento de sua arte e cultura tão peculiares, que mensagem gostarias de deixar para as gerações futuras que a habitarão? “Laguna tem uma riqueza histórico-cultural rara. Mas isso precisa ser melhor aproveitado, enquanto é tempo. Em 2017 a ALPAS participou da semana cultural, com divulgação de material sobre libras e cultura surda. Foi emocionante para nós esse compartilhamento e podermos prestigiar as apresentações trazidas, mas foi um tanto frustrante o desinteresse da população em geral. O que talvez se explique, em parte, pela própria organização do evento, contratando os artistas muito em cima da hora e divulgando a agenda mais de última hora ainda. Falta levarmos nossa riqueza lagunense mais a sério. Tenho em andamento um projeto de pesquisa e resgate histórico do uso da língua de sinais em Laguna. Não é tarefa simples: por diversos motivos, desde sempre os surdos foram mantidos à margem da história oficial (e em muitos casos ainda hoje é assim). Mas o resultado é gratificante, e me reforça a consciência de estar fazendo a minha parte”.

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