domingo, 12 de agosto de 2018

MEMBROS DO INSTITUTO CULTURAL CHACHÁ: SÉRIE ENTREVISTA

(publicada inicialmente em https://issuu.com/ocorreio/docs/ed_1466)

MARCIO JOSÉ RODRIGUES


Natural de Gravatal, já tendo residido também em Tubarão e Florianópolis, fixou-se em Laguna quando voltou da capital formado em Odontologia pela UFSC, em 1963. Hoje aposentado, exerceu o ofício até 2016. 

Sobre a reflexão que gostaria de compartilhar a respeito da Laguna de hoje, ele destaca que culturalmente a cidade está muito descaracterizada. “Laguna é um lugar onde o movimento de migração, indo e vindo, é muito expressivo, inclusive pela falta de meios de sobrevivência. O lagunense migra muito, e também recebe outros de culturas muito diferentes. Parece que o amor-próprio do lagunense anda meio carcomido. Aliás, parece que muitos dos que defendem Laguna nem são os lagunenses de nascimento. Considero a derrubada da casa de João Tomaz de Souza, onde atualmente funciona o Banco do Brasil, uma grande perda arquitetônica. O que recebemos hoje vem tudo de cima, o povo é pouco participativo. Mercado Público fechado. Várias burocracias emperrando a cidade. 

A respeito de sua produção artística e participação cultural, é uma resposta que requer fôlego. “Sempre desenhei e pintei, até fornecendo muito material para projetos na cidade, como as decorações temáticas de eventos no clube Blondin. Na música, participei do Coral Santo Antônio. E sou um dos fundadores do Coral da UFSC. Sempre escrevi os históricos e apresentações dos CDs do Coral Santo Antônio. E faço literatura e poesia. 

Participa de outros grupos/coletivos de arte, cultura ou afins? Se sim, quais? “Além do Chachá, participo do grupo Carrossel das Letras, onde já lançamos uma série de coletâneas literárias. Também participei de dois cadernos de autoria produzidos pelo SESC”. Na “Sociedade Musical União dos Artistas”, de 1860, ocupa cargos desde presidente de honra até orador. É autor de dois livros solo, “A Confraria”, que conta a história da Irmandade do Santíssimo Sacramento e de Santo Antônio (1763), e “Antônio dos Botos”, trilogia de contos que resgata histórias de pescadores açorianos/lagunenses (A visita/ O Linguado e o Siri/ O Pescador Julião). 

Sobre o Chachá, que lembrança tem? “Ele era de uma família sírio-libanesa bastante aristocrática. Seu pai era médico formado na França, que, no entanto, não conseguiu validar seu diploma no Brasil. Chachá era autodidata excelente em desenho, pintura e caricatura. Tinha uma conversa muito boa, era meu amigo pessoal. Sempre vestido impecavelmente, tinha fala amena, agradável, culta. 

Por fim: considerando nosso cenário municipal atual, em todos os âmbitos, que mensagem o senhor gostaria de deixar para as gerações futuras, principalmente as de Laguna? “Desde o homem do sambaqui, passando pelo índios carijós, a expansão europeia…, Laguna é o local do Brasil mais emblemático em torno dessa colonização sul-americana. Riquíssima em cultura, história e acervo natural. Acredito que a única coisa que um povo tem de verdade é sua própria alma. Falo das características psicossociais do povo, sua alma, falo da importância de se repassar as histórias adiante, o que muito antigamente se fazia em redor da fogueira. Isso são coisas que nos caracterizam em particular como o povo que somos. Não podemos perder o vínculo com nossas raízes. Para finalizar, me conta que criou o vocábulo “lagunidade”, se referindo ao sentido de “pertença” a este lugar. E evocando ligação não só genética, mas como se fosse o DNA do sentimento. “Observo que todos que amam Laguna, acabam se integrando e fazendo o bem pela cidade.”

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